1964 / 2021: assanham-se os autoritários

31 de março de 2021

O golpe parlamentar-jurídico de 2016 tornou explícito a presença de apoiadores da ditadura civil-militar iniciada em 1964 no Parlamento brasileiro. A homenagem ao Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador no período ditatorial, proferida por Jair Bolsonaro em seu voto a favor do Impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff não foi punido por nenhum dos três Poderes Constitucionais do Estado Democrático Brasileiro. Muito pelo contrário, serviu de palanque para a campanha eleitoral vitoriosa de Bolsonaro à presidência da República, em 2018.

Entre golpe e homenagens à torturador vimos também a construção por parte da grande mídia brasileira de um novo “herói nacional”, Sergio Moro, o qual serviu ao sucesso da candidatura do “mito” e ao governo deste, como Ministro da Justiça.

Chegamos ao 57º aniversário do golpe civil-militar de 1964. Neste mês de março de 2021 o mesmo Superior Tribunal Federal que legitimou o golpe de 2016, decidiu favoravelmente pela suspeição de Moro no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O “herói” não era apenas uma fraude, era também autoritário. No dia 30 de março tivemos, pela primeira vez na história democrática brasileira, a renúncia dos três Comandantes das Forças Armadas após a demissão por Bolsonaro do General Fernando Azevedo e Silva, Ministro da Defesa. Em sua carta de saída do governo, o General considerou necessário afirmar que preservou as Forças Armadas como instituições de Estado, ou seja, que elas não estão à serviço do governo.

O substituto do General Fernando Azevedo, o também General Walter Braga Netto, até então Ministro da Casa Civil – como sabemos, há grande presença de integrantes das Forças Armadas em cargos do governo Bolsonaro -, iniciou sua atuação no Ministério da Defesa fazendo o mesmo que seu antecessor em anos anteriores: publicou uma nota de elogio ao golpe de 1964.

A substituição do Ministro da Defesa e a renúncia dos Comandantes das Forças Armadas são atos importantes a ser considerados no jogo autoritário do governo Bolsonaro, sobretudo, porque parecem estar ligados a alegação por parte do presidente de falta de apoio a ideias recentes dele como a de decretar ações contrárias a governadores que têm apoiado medidas restritivas para combater a pandemia da Covid-19. Entretanto, é importante não esquecermos que durante o período do General Fernando Azevedo como Ministro da Defesa, Bolsonaro participou e incentivou atos antidemocráticos, bem como que foi defendida a narrativa do golpe civil-militar de 1964 como um “movimento” para “garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos”, como afirmou ontem o General Walter Braga Netto.

A Associação Brasileira de Psicologia Política ressalta sua posição completamente contrária a qualquer ato de apoio ao golpe de 1964, à ditadura civil-militar decorrente dele e a quaisquer ações autoritárias vivenciadas no país após o fim da ditadura. Não podemos permitir sequer “uma pólvora” favorável ao autoritarismo, o qual longe de proteger direitos democráticos, legitima a tortura, o assassinato, a perseguição política, a censura àquelas e àqueles que não se calam e não cansam de lutar por horizontes mais igualitários e livres.

“Apesar de você, amanhã há ser outro dia”

#DitaduraNuncaMais

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s