Neste dia 07 de maio de 2020, em que estamos juntas(os) na Marcha Virtual pela Ciência, a ABPP lança o Projeto ABPP e Conjuntura Política no Contexto de Pandemia, para o qual convidamos sócias(os) da entidade para produzirem vídeos debatendo temáticas investigadas por elas(es) e que nos auxiliam a refletir sobre o contexto histórico em que vivemos. Agradecemos às(aos) associadas(os) que aceitaram fazer parte deste Projeto.
Convidamos todas(os) para assistirem e compartilhar os vídeos, bem como pesquisadoras(es), estudantes e profissionais para se aproximarem da ABPP e tornarem-se sócias(os) desta entidade científica (https://psicologiapolitica.org.br/associe-se/).
Vocês poderão, através dos vídeos, entrar em contato com discussões construídas no campo de conhecimento da psicologia política, caracterizado por uma pluralidade teórica e metodológica, por debates sobre a própria concepção de psicologia política, e que tem como foco o estudo de fenômenos políticos.
Vídeo 01 – Aspectos políticos e psicológicos relativos à pandemia COVID-19: a associada convidada é Marcela de Andrade Gomes, vice-presidente Regional Sul da ABPP e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Marcela aponta que a pandemia demonstra a fragilidade humana e denuncia a profunda desigualdade social que estrutura a sociedade brasileira; o uso do discurso dos direitos humanos (para quem serve?); a necropolítica como inerente ao sistema capitalista; a escassez de investimento do Estado Brasileiro nas políticas públicas e na ciência.
Vídeo 02 – COVID-19 e estratégias de atuação em situações de emergências e desastres: a associada convidada é Josiele Bené Lahorgue, Secretária Geral da ABPP e professora da Faculdade CESUSC e da Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Santa Catarina. Josiele aborda o enfrentamento à pandemia da COVID-19 a partir de aspectos relativos à Psicologia de Emergência e Desastres, da relação entre saberes científicos e comunitários, da necessidade de fortalecimento das políticas públicas e da articulação entre a psicologia social crítica, a psicologia comunitária latino-americana e a psicologia política.
Vídeo 03 – Ruralidades, sustentabilidade e impactos da COVID-19: o associado convidado é Jáder Ferreira Leite, ex-Presidente da ABPP (2017-2018) e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Jáder aborda o contexto da pandemia da COVID-19 a partir de seus impactos em contextos rurais e para populações indígenas e quilombolas. Aponta para a importância de refletirmos sobre o modo de produção agro-alimentar brasileiro, afirmando a necessidade de construirmos um modelo baseado em práticas de sustentabilidade, de proteção do meio-ambiente e de fortalecimento da agricultura familiar. Jáder salienta a importância do reconhecimento da produção científica para a investigação destes aspectos, bem como a necessidade de construirmos articulações políticas e políticas públicas orientadas para a garantia de melhores condições de vida das populações e para a proteção do meio-ambiente.
Vídeo 04 – Instituições democráticas e participação política no contexto da pandemia: Leandro Amorim Rosa, membro do Conselho Fiscal da ABPP, entrevista o associado Salvador Sandoval, ex-Presidente da ABPP (Gestões 2003-2005 / 2011-2014) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Sandoval considera que o contexto da pandemia da COVID-19 permite observar a importância do campo da psicologia política. Aborda a relação adversarial entre o Executivo e o Legislativo e o Judiciário no Brasil, bem como as condições para participação política neste contexto. Aponta para a importância de refletirmos sobre o fortalecimento dos governos estaduais e municipais; sobre formas de participação política presentes neste momento que exige a permanência das pessoas em casa (panelaços, redes sociais); sobre a possibilidade de transformação da consciência política em termos do papel dos governos em relação às políticas públicas.
Vídeo 05 – Psicologia Política e Covid-19 – Neoliberalismo, Controle e Militarização: o associado convidado é Domenico Uhng Hur, Secretário de Pesquisas da Asociación Ibero-latinoamericana de Psicología Política (AILPP) e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG). Domenico compreende a psicologia política como um campo de análise das configurações de forças que considera os processos cognitivos, afetivos, comportamentais e de subjetivação envolvidos no fenômeno investigado. A partir deste entendimento, ele propõe analisar a governamentalidade do governo Bolsonaro em relação à pandemia do Covid-19 a partir de quatro eixos: a) a falta de planejamento do governo em lidar com a pandemia; b) a lógica neoliberal governamental; c) a retórica militarista; d) o dispositivo de controle e rastreio.
Vídeo 06 – “Viropolítica”: a associada convidada é Aline Reis Calvo Hernandez, ex-editora da Revista Psicologia Política (2016-2019), vice-coordenadora do Grupo de Trabalho “Psicologia Política” da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aline considera que um tema chave para a psicologia política são as dinâmicas de poder e considera que a pandemia da COVID-19 é um fenômeno psicopolítico na medida em que conecta a dimensão subjetiva à dimensão do comum. Propõe abordar o contexto da pandemia a partir da análise do fenômeno Bolsonaro, utilizando para tanto o conceito “viropolítica”. Ela aponta para alguns analisadores para entender o fenômeno Bolsonaro – Bannon, Bíblia, Boi, Bala, Balbúrdia, Banalização do Mal – e compreende a atuação do governo frente à pandemia como “viral”, como uma ameaça ao enfrentamento da pandemia e às instituições democráticas. Em contraposição a esta atuação, Aline lembra a fala de Conceição Evaristo: “eles combinaram de nos matar, mas nós decidimos não morrer”.
Vídeo 07 – Pandemia e desigualdades: desafios para a população em situação de rua: o associado convidado é Fernando Santana de Paiva, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Fernando concebe que a pandemia de COVID-19 é uma questão de ordem sanitária, mas possui uma relação central com o modo de produção capitalista, o qual é historicamente caracterizado como um modo de organização da vida que produz pobreza e outras formas de desigualdade. Fernando focaliza aspectos relativos à população em situação de rua neste contexto de pandemia como: a) o direcionamento das políticas de prevenção para condições de classe média. A orientação para evitar aglomeração, por exemplo, é um desafio para a população em situação de rua, uma vez que estar em coletividade é para esta população uma forma de proteção à violência, inclusive, do Estado; b) a precarização das políticas públicas, em geral, e a dificuldade de acesso da população em situação de rua a estas políticas, por exemplo, a política pública de saúde. Diante deste quadro, Fernando apresenta a preocupação com o aumento do rechaço à população em situação de rua e com ações higienistas e repressoras do Estado direcionadas para esta população. Também ressalta a necessidade de fortalecermos ações coletivas a partir: a) da crítica à precarização das políticas públicas; b) da afirmação de um projeto ético-político que tenha como horizonte a superação do modo de produção capitalista, salientando o papel da ciência, em sua perspectiva crítica, e sua articulação com movimentos sociais.